Quais os potenciais e os limites da pré-candidatura de Raquel Lyra?

Opinião
Publicado por Américo Rodrigo
15 de março de 2022 às 07h30min
Foto: Divulgação/Asces-Unita

Por Vanuccio Pimentel*

O mês de março marca o limite de definições para as pré-candidaturas ao governo do estado de Pernambuco. Após o anúncio de Danilo Cabral no campo da situação, a oposição também começa a se definir com mais clareza. A ida de Raquel Lyra para a disputa ainda é uma incógnita, mas já mexe com o tabuleiro da disputa e com o imaginário dos caruaruenses.

No entanto, a possibilidade real de que a oposição apresente três candidaturas é algo que modifica significativamente a eleição. Vou me concentrar na possibilidade da pré-candidatura de Raquel Lyra com base em dois pontos de análise: as potencialidades que ela representa e as limitações que ela deve enfrentar.

Em relação ao potencial de sua pré-candidatura é possível destacar dois pontos: uma boa avaliação da administração em Caruaru e o posicionamento da cidade como ponto de referência no Agreste.

Ao longo dos últimos anos Raquel Lyra soube articular as ações do seu governo de modo a garantir uma visibilidade positiva de sua gestão. As premiações recebidas no final do ano passado ajudaram a ampliar a sua liderança regional. Isso tudo, aliado ao posicionamento estratégico de Caruaru no Agreste, potencializou a visibilidade de Raquel em toda a região.

Além de ser um importante polo comercial e de serviços, Caruaru é o quinto maior colégio eleitoral do estado e se situa em uma região com significativa densidade eleitoral. Vale lembrar que, depois da região metropolitana do Recife, o Agreste é a região com maior densidade eleitoral do estado. Além disso, tomando as eleições de 2018 como referência, o Agreste Central se firmou como uma região importante para a oposição. Em colégios maiores como Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe, o PSB enfrentou um cenário bem adverso.

A princípio, esses fatores somados colocam Raquel em uma situação vantajosa no momento. Por outro lado, as limitações também começam a ficar mais evidentes.

O primeiro ponto a ser considerado é a conjuntura nacional e o espaço do PSDB na disputa. O PSDB enfrenta um processo grave de fracionamento interno, as prévias representaram um desgaste significativo, visto que as cisões internas foram se agravando a ponto de produzir algo surpreendente: a saída de Geraldo Alckmin e a possível composição com Lula.

Esse movimento interno do PSDB é avalizado por lideranças históricas do partido. Em recente entrevista ao jornal Estado de São Paulo, o ex-ministro e Senador Aloysio Nunes Ferreira deixou claro que o PSDB perdeu relevância nacional e sinalizou como positiva a aproximação com o PT. Esse descompasso com o projeto nacional do PSDB não ajuda a candidatura de Raquel, que deve enfrentar adversários muito mais articulados no plano nacional.

Mas, o ponto que representa uma limitação eleitoral mais significativa é a candidatura de Anderson Ferreira (PL). Na última quinta-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro lançou Anderson como pré-candidato e acabou por modificar todo o campo da oposição.

O primeiro problema é que uma parte do eleitorado de oposição é bolsonarista, e embora ainda não seja possível saber o tamanho dessa fatia do eleitorado, é evidente que se trata de uma parcela importante. E a tendência é de que estes eleitores sigam a orientação do presidente Jair Bolsonaro e apoiem Anderson Ferreira.

Por esta perspectiva, a candidatura de Raquel deve perder o apoio desses eleitores. E o Agreste deu uma contribuição importante para a votação de Bolsonaro em Pernambuco. Além de uma votação significativa em Caruaru (em 2018 ele obteve 41,56% no primeiro turno em Caruaru), Bolsonaro conquistou uma vitória expressiva em Santa Cruz do Capibaribe. Isso seria um revés muito grande porque o Agreste é a base principal de votos para a candidatura de Raquel.

É importante considerar que Bolsonaro pode ter perdido uma parte desses eleitores que o apoiaram em 2018, mas as pesquisas ainda indicam que essa parcela do eleitorado é muito importante para as candidaturas de oposição. Assim, diante do cenário que vai se desenhando, resta saber se Raquel será mesmo candidata e qual estratégia ela pretende adotar para garantir a liderança da oposição em Pernambuco.

*Doutor em Ciência Política e professor da Asces-UNITA

Américo Rodrigo

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