Eleições de continuidade ou de mudança?

Opinião
Publicado por Américo Rodrigo
11 de abril de 2022 às 09h00min
Foto: Brizza Cavalcante

Por Maurício Rands*

No cenário nacional, há vários meses todas as pesquisas mostram uma grande rejeição ao governo Bolsonaro e à sua performance pessoal. Consistentemente 2/3 do eleitorado o reprovam. Apesar de ele ter à sua disposição a arma da caneta para distribuir favores do erário e contar com um núcleo resistente de eleitores, o cenário é de um governo desastroso. Na condução da pandemia, no desmonte da política ambiental, na política econômica que fez voltar a inflação e o desemprego, e no ataque às instituições. Por isso, é de mudança o sentimento nacional que deve prevalecer nas eleições de outubro. Existe apenas o risco de que os “nem-nem”, aqueles que rejeitam tanto Bolsonaro quanto Lula, acabem por se ausentar do voto no 2º turno.

Outras eleições de mudanças ficaram na memória política nacional. Como a de 1989, a primeira direta depois da ditadura militar. Mesmo tendo um grande homem público como Ulysses Guimarães como candidato do governo, o eleitor escolheu os oposicionistas Collor e Lula para a disputa no 2º turno. A eleição era de mudança ante a reprovação geral ao governo de Sarney.

Em Pernambuco, o cenário é análogo. O atual governador chega a um final melancólico de uma administração que não deixou qualquer marca. Conclui seu governo sem qualquer iniciativa estruturadora. Deixa Pernambuco na condição terceiro estado mais desigual do país, segundo apontou a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada em dezembro de 2021. Além do aumento da população de miseráveis. Sua polícia, desprestigiada pelo chefe e sentindo a falta de liderança, comete atentados como o que vitimou a menina Heloysa Gabrielle no último dia 30/03 em Porto de Galinhas. Ou o que custou a visão ao transeunte que assistia a repressão desfechada contra os jovens que se manifestavam pelo impeachment de Bolsonaro na Av. Guararapes no dia 29/5/2021. O estado deixou de ser atrativo aos novos empreendimentos.

A burocracia e os tributos altos afugentam os investidores e importunam a vida dos cidadãos comuns. Muitos preferem instalar seus novos empreendimentos nos estados vizinhos. O sentimento geral é de que o PSB apresenta fortes sinais de fadiga de material. O governador Paulo Câmara vai embora sem a estima e o reconhecimento dado a outros governadores. Talvez por isso sequer vai concorrer ao Senado, como seus colegas que deixam seus governos com aprovação alta. Casos de Flávio Dino (MA), Rui Costa (BA) e Wellington Dias (PI). Ou a uma vaga na Câmara. As pesquisas apontam rejeição ao seu governo. Como a da Paraná Pesquisa, de 26 de março p.p, que indica ter o governador padrão Jair Bolsonaro de desaprovação (62,8% contra 64,7% do presidente). Por isso, já se comenta que será escondido da campanha de Danilo Cabral, o seu candidato.

Para o embate eleitoral, despontam cinco candidaturas que se opõem à atual hegemonia do PSB e aliados. Um domínio político exercido pelo uso da máquina administrativa e pela manipulação da estima que o povo de Pernambuco dedica ao ex-presidente Lula. Embora se odeiem mutuamente, as cúpulas do PSB e do PT têm celebrado casamentos de interesse. Foi assim em 2018, quando o atual governador se reelegeu por ter entregue o Senado ao PT e, assim, obtido o apoio de Haddad e Lula. Naquela eleição, para negar apoio à candidatura de Ciro Gomes, o PSB exigiu que o PT retirasse a candidatura a governadora de sua filiada, Marília Arraes, que liderava as pesquisas. O pacto foi feito. Mesmo assim, a eleição deixou de ir ao 2º turno por menos de 1%.

Aquele acordo de cúpulas deixou as feridas que agora culminaram com a saída de Marília do PT. Por isso, sua candidatura ao governo em outubro deve arrastar uma parte grande da base social que já a apoiava desde 2018. Ainda no campo de esquerda ou progressista, a candidatura de João Arnaldo pela Federação Rede-PSOL também se apresenta como opção no campo que nacionalmente se opõe a Bolsonaro. No centro, apresenta-se a candidatura da ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra, do PSDB, que pode se beneficiar da provável retirada do candidato de seu partido, João Dória, cuja rejeição puxa para baixo qualquer aliado. Para os eleitores que querem uma mudança em Pernambuco, mas têm vinculações com o governo Bolsonaro, duas opções despontam. A primeira, mais explicitamente bolsonarista, a do ex-prefeito de Jaboatão Anderson Ferreira, do PL do presidente. E a outra, do ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho que, embora tente se afastar de Bolsonaro, carrega o peso de tê-lo apoiado durante todo o governo, inclusive com o pai senador desempenhando a função de líder de Bolsonaro no Senado.

O cardápio é vasto e diversificado. A questão que fica é a de saber em qual direção vai se materializar a rejeição ao governo Paulo Câmara. Se pela esquerda, com Marília ou João Arnaldo, ambos vinculados à candidatura de Lula, que em PE é amplamente majoritário. Ou se pelo centro ou direita, com uma(a) integrante de um palanque nacional da terceira via ou do presidente Bolsonaro. Difícil saber o desfecho. Menos difícil, todavia, é perceber que o cenário é de uma eleição de mudança. As duas continuidades não se apresentam atrativas.

*Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

Américo Rodrigo

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