Opinião | Michelle Santos e o desafio da esquerda em Caruaru 

Opinião
Publicado por Redação
15 de junho de 2024 às 07h30min
Foto: Divulgação

Por Vanuccio Pimentel*

A esquerda em Caruaru sempre teve muita dificuldade em construir alternativas viáveis para a disputa eleitoral em Caruaru. Não apenas no plano majoritário, mas também no proporcional. 

Michelle Santos (PSOL) busca romper com essa história da esquerda na cidade. Uma jovem mulher e advogada, militante das políticas públicas que tem o desafio de se tornar uma alternativa política viável para a cidade. 

Este desafio passa por dois momentos: o primeiro é a construção de uma candidatura de esquerda que seja capaz de adotar um discurso e um programa de governo que atinja o eleitorado caruaruense, que em sua maioria, não compreende o discurso da diferença de classe e que não vê a diferença de renda como um problema, mas como uma questão de mérito individual.

O segundo desafio, e não menos importante, é evitar cair no debate nacional da esquerda. As questões identitárias e as políticas setoriais cumprem papel relevante na sociedade, mas que não encontra forte adesão em disputas majoritárias. Pois, mesmo em uma cidade grande e complexa como Caruaru, o nicho eleitoral da esquerda ainda é muito reduzido.

Diferentemente de boa parte do país, onde a esquerda floresceu por meio da organização dos trabalhadores, dos sindicatos e das categorias mais organizadas de servidores públicos, em Caruaru a situação foi bem distinta.

Em verdade, toda região Agreste de Pernambuco possui essa mesma característica. O desenvolvimento econômico da região não ocorreu por meio da organização tradicional de classes, mas por meio de uma atividade informal e pouco organizada como as feiras e os fabricos, no qual a diferença entre o proletário e o capitalista é bem menos clara.

A atividade informal da feira e do fabrico de confecções permitiu a muitos se transformarem em micro e pequenos empresários. Essa atividade informal sempre ocorreu à revelia do poder público e da organização formal de uma empresa. Isso fez com que nascesse na região um comportamento mais próximo de um liberalismo primitivo (laissez-faire) que sempre foi uma forte barreira ao nascimento da consciência de classe – como diria o velho Karl Marx.

Essa falta de aderência do discurso tradicional da esquerda na cidade é a principal barreira para o seu crescimento. Portanto, o desafio de construir uma alternativa viável passa pela tentativa de uma candidatura mais pragmática e mais consciente do que as pessoas querem e esperam do poder público local.

*Mestre e doutor em Ciência Política (UFPE)

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