A Câmara de Caruaru foi palco de um diálogo que deu um show de preconceito nesta quinta-feira (25). Ao usar a tribuna, o vereador Val Lima (PSL) começou a criticar quem diz que existe racismo no Brasil.
Alegando que já viajou muito, ele disse que nunca viu discriminação contra pessoas de pele escura, e que teria sido procurado por uma amiga, que é negra, pedindo que fizessem alguma coisa contra esse discurso (de que negros sofrem racismo), porque isso sim é que seria preconceito.
“Eu não tenho visto essa questão de discriminação. Tenho visto pessoas querendo tirar proveito […] eu convivo com pessoas negras todos os dias, inclusive a família da minha mulher ‘são’ pessoas de pele escura, e eu não percebo, não vejo essas coisas na rua, não vejo em lugar nenhum”, disse o vereador.
“Essa questão de Direitos Humanos, essa discriminação com relação à pele negra, que ‘não sei o que’, isso realmente tem que ser melhor debatido e provado que isso não é verdade da forma que está sendo ‘mostrado’ aqui nesta casa”, finalizou Val.
Como se não houvesse possibilidade de piorar a situação, o vereador Galego de Lajes (MDB) pediu a fala para incorporar suas colocações ao discurso do colega. Além de concordar com Val, Galego ainda salientou que os negros só morrem mais, porque são a maioria da população, e entrou em outra vertente dos movimentos sociais. Para o emedebista, LGBTQIA+ são mortos, em sua maioria, não por causa do preconceito, mas porque, segundo ele, têm envolvimento com crimes.
“Matam-se muitos gays e travestis, ‘tal’, o pessoal aí. Morrem, realmente. Claro que há uma discriminação e a gente tem consciência disso, mas a grande maioria dos assassinatos dessas pessoas, também são porque ‘eles’ são envolvidos com crime, com a criminalidade”, declarou Galego de Lajes, com quem Val concordou.
As falas dos parlamentares foram provocadas em meio a uma discussão sobre os Direitos Humanos, com a intenção de confrontar a vereadora Perpétua Dantas (PSDB), que defende o movimento e frequentemente comenta sobre a violência contra pessoas negras, mulheres e LGBTQIA+.
Os discursos acontecem em pleno mês da Consciência Negra, quando se tenta conscientizar sobre o racismo no Brasil. O levantamento do Atlas da Violência 2021 mostrou que a chance de uma pessoa negra ser assassinada no país é 2,6 vezes maior que a possibilidade de uma pessoa não negra ser morta. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros em 2019 foi de 29,2, enquanto na população amarela, branca e indígena, a taxa ficou em 11,2.
Nesta semana foi divulgado um levantamento que revelou que a cada dez pessoas trans assassinadas no mundo, quatro são do Brasil. Esta foi a 13ª vez consecutiva que o país foi eleito como o mais perigoso para uma pessoa trans. De acordo com os dados da ong Transgender Europe (TGEU), ao menos 125 travestis, mulheres e homens trans foram assassinados pela identidade de gênero entre outubro de 2020 e setembro de 2021 no Brasil.
Assista o trecho do diálogo entre os parlamentares: