Caruaru, parada política de presidentes e presidenciáveis

Opinião
Publicado por Américo Rodrigo
30 de agosto de 2021 às 11h00min
Foto: Arquivo

Por John Silva*

O presidente Jair Bolsonaro confirmou que no próximo dia 04 de Setembro estará em Caruaru. A cidade é o ponto final de motociata que terá início na cidade de Santa Cruz do Capibaribe e passará por Toritama, percorrendo a BR-104. A visita do presidente da República ocorre uma semana depois em que a sociedade caruaruense assistiu a visita de presidenciáveis pelo PSDB, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e João Doria, governador de São Paulo. Ambos desembarcaram na cidade acolhidos pela prefeita tucana Raquel Lyra. Em suas passagens foram conhecer a Feira de Caruaru, o Alto do Moura e participar de atos partidários.

O que muitos, talvez, não saibam é que a cidade de Caruaru tem uma longa tradição em receber presidenciáveis e presidentes. Um costume político-eleitoral que está atrelado à importância econômica, social e política do município, especialmente a partir da segunda metade do século XX. A tradição tem suas origens no início na década de 1950 com a visita do líder integralista Plínio Salgado a Caruaru, que concorrera às eleições presidenciáveis de 1955, obtendo 8,28% dos votos no pleito.

Em 1951, temos a visita do presidenciável Cristiano Machado, acolhido por políticos tradicionais da cidade, a exemplo de Celso Galvão, José de Pontes Vieira, deputado na época e seu irmão Gercino de Pontes secretário de estado na administração de Agamenon Magalhães; além de duas visitas de Juscelino a Caruaru. Em 1955, durante a campanha presidencial temos o famoso comício da Rua da Matriz, com a presença de Kubitschek e João Goulart. No evento, discursam o deputado José de Pontes Vieira, o sargento Severino Ferraz e o vereador Chico do Leite; estes dois últimos, perseguidos anos depois pela Ditadura Militar.

No inicio da década de 1960, especialmente em 1963 temos a segunda visita de Juscelino Kubitschek a cidade. Ele vem a convite do deputado Lamartine Távora e Celso Rodrigues. Na ocasião, desfilam em carro aberto pela Avenida Rio Branco de olho na campanha presidencial de 1965, que não ocorreria devido a eclosão do golpe civil-militar de 1964. Essa ligação de Kubitschek com a cidade se fortaleceu muito após sua participação nos festejos de 100 anos de emancipação política da cidade realizados em 1957 pelo então prefeito de Caruaru, Sizenando Guilherme.

A década de 1980 é marcada pelas movimentações políticas em favor da redemocratização do país. Políticos como Leonel Brizola, Collor, Lula e Tancredo Neves participam de atos políticos na cidade. O maior deles foi o comício pelas “Diretas Já”, ocorrido em 18 de fevereiro de 1984, que reuniu, segundo os jornais Vanguarda e A Defesa, mais de 25 mil pessoas. Em 7 de agosto de 1987 é a vez do presidente Sarney, que assumira a presidência cerca de dois anos antes, vir a Caruaru participar de ato organizado por Fernando Lyra em favor das “Diretas Já”, lá estavam Mário Covas, Leonel Brizola, Lula e Fernando Collor. Miguel Arraes, então governador do estado, é a maior ausência do evento. O ex-deputado Fernando Gabeira há alguns anos recordou em texto no Estadão o episodio do comício das “Diretas Já” em Caruaru, destacando a presença de Lula e Collor, que estiveram no ato lado a lado e protagonizariam nos próximos anos os maiores embates políticos da República.

Os anos de 1990 são embalados pelas visitas de FHC ao Agreste, especificamente a Caruaru. Na tarde do dia 7 de abril de 1995, Fernando Henrique Cardoso participa de reunião do Ministério do Turismo em Caruaru, logo depois, à noite, participa da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém e experimenta pela segunda vez, a tradicional buchada de bode. Um ano antes, na campanha de 1994 à Presidência da República, FHC esteve em Caruaru durante os festejos juninos e dançou forró. Na ocasião, a segurança de FHC encontrou problemas que foram protagonizados por Israel Alves Correia, na época com 30 anos. O indivíduo tinha passagens pela polícia por uso de droga, além de várias internações na extinta Clínica Psiquiátrica Doutor Veloso, onde era fichado como esquizofrênico.

No fim daquele ano, em 18 de setembro ele foi preso pela policia após ter enviado várias cartas a FHC durante a campanha; nestas cartas, ele ameaçava matar FHC. Em 13 de Fevereiro 1998, após desembarque no Aeroporto Oscar Laranjeira, ele fará inauguração da Barragem de Jucazinho, na época ainda não concluída ao lado dos ministros: do Meio Ambiente, Gustavo Krause e o da Reforma Agrária, Raul Jungmann, além do vice-presidente Marco Maciel, no palanque ainda os pré-candidatos ao governo estado: Miguel Arraes, governador na época, Jarbas Vasconcelos e o candidato tucano, o senador Carlos Wilson e outros políticos, a exemplo do deputado federal Tony Gel.

Ainda em 1998, Ciro Gomes, candidato a Presidente da República pelo PPS, visita Caruaru para entrevistas e participação de ato do MST. Na ocasião, fez críticas duras ao Presidente FHC e ao anúncio de alguns de seus novos ministros, entre eles Renan Calheiros, cujo Ciro chamou de “despreparado” para ocupar o Ministério da Justiça. Na eleição daquele ano, Collor realiza em Caruaru o maior de seus comícios pelo nordeste. Na ocasião, se encontra com o candidato a deputado federal, Tony Gel. Em 2002, temos o comício de Lula em meio a sua campanha presidencial. Políticos locais, como João Lyra Neto, que um ano antes havia disputado a eleição para prefeito pelo PT, se juntaram a nomes como o de Jaques Wagner, Humberto Costa, João Paulo e outros. Já eleito, em 2005, Lula visita Caruaru após inaugurar uma das etapas do projeto de abastecimento do Jucazinho. Horas antes teve que fazer pouso forçado do helicóptero Super Puma VH-34, em Toritama, devido ao mau tempo na região.

Nos últimos 20 anos, tivemos momentos marcantes protagonizados pela visita de presidentes e presidenciáveis em Caruaru. Podemos recordar o discurso de instalação do Campus Agreste da Universidade Federal de Pernambuco, realizado em 2010 pelo ex-presidente Lula na cidade. Nas campanhas presidenciais seguintes, visitas eleitorais tornaram-se corriqueiras, como a feita pela então candidata Dilma que em 26 de Outubro de 2010 participou de carreata por mais de 2 horas, visitando bairros de Caruaru acompanhada por políticos pernambucanos, entre eles o governador reeleito Eduardo Campos, João Lyra Neto, Wolney Queiroz, João Paulo, o prefeito Zé Queiroz e outros. Em Junho de 2011, a já presidente Dilma também esteve prestigiando o São João de Caruaru. Muito antes, em 2009, havia conhecido os festejos quando era ministra da Casa Civil.

Tivemos ainda Marina Silva, nas eleições de 2014. A candidata que substituiu Eduardo Campos, em meio ainda a toda comoção de sua morte, fez em Caruaru grande comício rodeada de toda a cúpula de membros do PSB; entre eles, o candidato a governador Paulo Câmara. Ainda no mesmo ano, durante os festejos juninos, tivemos a recepção acalorada a Aécio Neves, então candidato pelo PSDB, feita pelo prefeito de Caruaru, Zé Queiroz, e seu grupo político, além do jovem Raffiê Dellon, anos depois candidato à Prefeitura de Caruaru. Em 2018, durante os festejos juninos organizados pela prefeita Raquel Lyra no município, recebemos a visita do pré-candidato ao Planalto pelo PSDB, Geraldo Alckmin, que também conheceu o Monte Bom Jesus. Meses depois, em 6 de Setembro, no pleito eleitoral, o presidenciável Ciro Gomes visitou a Feira de Caruaru e o Teatro João Lyra para participar de ato político. Na ocasião, sua esposa, Gisele Bezerra, passou mal ao lhe transmitir a notícia do esfaqueamento do candidato a presidente, Jair Bolsonaro.

*John Silva
Professor e mestre em História

Américo Rodrigo

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