A imaturidade de Rodrigo Pinheiro

Opinião
Publicado por Redação
20 de abril de 2024 às 12h30min
Foto: Elvis Edson

Por Vanuccio Pimentel*

O voto no Brasil é fortemente influenciado pelas emoções. São elas que produzem o sentimento que, em seguida, ajuda a produzir uma opinião. A eleição de Paulo Câmara em 2014, na esteira da emoção pela morte de Eduardo Campos, é um exemplo claro dessa influência. A própria eleição da governadora Raquel Lyra em 2022 também teve um forte elemento emocional.

Dessa forma, uma lição básica é a seguinte: nenhuma liderança política deve produzir emoções negativas sobre si, pois elas tendem a gerar sentimentos negativos e, consequentemente, opiniões negativas. A derrota de Jair Bolsonaro em 2022 é um exemplo de que produzir sentimentos negativos sobre si pode custar uma reeleição.

Seguindo esta linha de raciocínio, a entrevista da sexta-feira (19) do prefeito Rodrigo Pinheiro ao programa Mesa Redonda na Rádio Cultura foi um desastre. 

Em primeiro lugar, ao responder uma pergunta sobre as críticas feitas pelo pré-candidato Erick Lessa ao seu secretariado, o prefeito Rodrigo Pinheiro buscou desqualificar o pré-candidato chamando-o de “forasteiro”. 

No Censo Populacional de 2010, Caruaru já aparece como o quinto município do estado de Pernambuco que mais recebe pessoas de outras cidades. Ou seja, nos últimos quinze anos, boa parte do crescimento populacional e eleitoral da cidade ocorreu porque as pessoas de outras cidades para cá se mudam e constroem sua vida. 

Quando o prefeito Rodrigo Pinheiro busca desqualificar uma pessoa chamando-a de “forasteira” ele usa um termo pouco inteligente, antiquado e incompatível com a realidade de uma cidade cosmopolita como Caruaru. Ao desqualificar uma pessoa como forasteira, ele desqualifica uma parte importante do eleitorado. Por acaso, alguém acha que isso gera um sentimento positivo nestes eleitores?

Em segundo lugar, o relato feito pelo prefeito sobre o encontro com Tonynho Rodrigues é completamente estúpido. E ele se jacta da própria inabilidade política. Vejam bem: segundo o prefeito, este foi o primeiro encontro pessoal entre ele e Tonynho. E no primeiro encontro ele conseguiu jogar uma força política importante da cidade na oposição a ele. 

Em 2016, Tony Gel teve 37% dos votos da cidade no primeiro turno. E as forças políticas não desaparecem de uma eleição para outra, exatamente porque o que liga os eleitores a estas forças são as emoções, os sentimentos e a opinião. Será que o prefeito conseguiu produzir sentimentos positivos nesta parcela do eleitorado?

Por fim, algumas perguntas continuam pairando. O prefeito vai recusar os votos dos “forasteiros” que vivem na cidade? Ou os “forasteiros” servem apenas para votar, mas não servem como candidatos?

*Mestre e doutor em Ciência Política (UFPE)

Redação

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