Por Vanuccio Pimentel*
Ao fim do processo eleitoral deste ano, estabeleceu-se um debate sobre quem ganhou as eleições. Os aliados da governadora Raquel Lyra (PSDB) apontam para uma grande vitória que a qualifica para a reeleição em 2026. Por outro lado, os apoiadores de João Campos (PSB) sinalizam para uma profunda derrota da governadora, apontando que desempenho foi o pior dos últimos 20 anos.
Todo este debate anima o meio político, mas obscurece um pouco a análise dos dados. Para superar isso, organizei este artigo com foco na distribuição geográfica da disputa, por considerar que a eleição estadual é fortemente pautada por um elemento geográfico. As diferentes regiões do estado possuem dinâmicas políticas próprias e que impactam na construção de um projeto estadual.
Antes de tudo, é importante considerar que a governadora Raquel Lyra demorou muito para perceber que estas eleições seriam cruciais para 2026. Desde que assumiu o governo em 2023, houve muito tumulto e sérias dificuldades na articulação política com o Assembleia Legislativa e com os prefeitos de todo o estado.
Foi apenas este ano que a governadora consolidou a base aliada de partidos e decidiu entrar em campo para fazer política. Este fato cobrou um alto preço político que se traduziu nestas eleições.
Ao observar a distribuição dos municípios conquistados pelo PSDB é visível que isso representa uma grandiosa vitória política. É muito provável que o timing e as dificuldades de articulação tiveram um peso importante deste resultado. No entanto, o resultado garante que Raquel Lyra seja uma candidata competitiva para 2026.
Apesar das dificuldades, ela mostrou que consegue ter fôlego para crescer politicamente. Além disso, também teve fôlego de recuperar o tempo perdido e construir uma base de municípios que dão viabilidade ao seu projeto de reeleição.
Quando se considera a distribuição geográfica dos municípios conquistados por sua base aliada, a situação melhora um pouco mais. Em análise espacial, os dados apresentam uma vitória baseada em clusters, em outras palavras, em bolsões concentrados de municípios.
Há quatro bolsões importantes de municípios que representam os ganhos da base aliada. A região da divisa entre o Agreste e a Mata Norte que se estende até o norte da Região Metropolitana, tendo como os principais bastiões Olinda, Igarassu e a Ilha de Itamaracá na RMR. Na Mata Norte e Agreste, Carpina, Limoeiro e Lagoa do Carro são os mais relevantes daquele grupo de municípios.
O segundo bolsão de municípios está no Agreste, tendo Caruaru como seu principal expoente, mas que também apresentam Santa Cruz do Capibaribe, Brejo da Madre de Deus e Taquaritinga do Norte como as principais conquistas. O terceiro bolsão está na Mata Sul com Palmares, Catende, Joaquim Nabuco e Xexéu como bastiões importantes da região. Por fim, o quarto grupo de municípios está no Sertão com Arcoverde, Sertânia, Floresta, Salgueiro, Ibimirim e Custódia como municípios mais representativos.
Depois de observar a distribuição geográfica dos municípios, é importante considerar o peso eleitoral que eles representam, e mais importante, o peso que cada região tem no montante de eleitores dos municípios conquistados. Ou seja, o quanto cada região contribuiu para o resultado das conquistas da base aliada da governadora Raquel Lyra.
O gráfico a seguir apresenta esta distribuição enfatizando por meio da linha de acúmulo (Pareto) o quanto cada região contribuiu para o montante de eleitores atingidos e onde se encontram os maiores desafios eleitorais.
A governadora se saiu melhor na Zona da Mata e no Agreste do Estado. No caso da Zona da Mata (norte e sul), trata-se região com menor densidade eleitoral do estado, mas que representam municípios importantes que já foram fortemente influenciados pelo PSB no passado.
A base aliada da governadora conquistou municípios que representam 65% dos eleitores da Mata Norte, 49% da Mata Sul e 43% do Agreste. Esse resultado está em sintonia com os bolsões apresentados nos mapas anteriores e demonstram que a governadora obteve vitórias concentradas em algumas regiões.
Por outro lado, o desafio claramente reside na Região Metropolitana do Recife e no Sertão do Estado. Duas regiões importantes que a governadora possui poucos aliados e as vitórias representaram poucos municípios importantes. Além disso, convém destacar que o Agreste do estado é a base principal da governadora, pois foi pelo peso eleitoral desta região que ela conseguiu chegar ao segundo turno em 2022.
Para além de discutir grandes vitórias e derrotas avassaladoras, é importante considerar as posições de cada uma das forças políticas que estão na arena da disputa estadual. Nesse sentido, é possível afirmar que a governadora não obteve uma vitória estrondosa nas eleições, mas que obteve vitórias concentradas em algumas regiões do estado.
Apesar disso, o resultado geral permite considerá-la uma força política importante e competitiva para as eleições de 2026. Parece um erro acreditar que a governadora não conseguiu acumular uma base aliada e alguma força política para a reeleição. E mesmo com o atraso em organizar a base de apoio, a governadora conseguiu estabelecer pontos importantes de apoio no estado.
*Doutor em Ciência Política (UFPE) e professor adjunto II – Asces-Unita