Foram 1088 dias de uma espera que, paulatinamente, após duradoura angústia, transfigurou-se em esperança. Enfim, a realidade se materializou neste 17 de fevereiro de 2023, o dia em que a maior festa de rua do Brasil retomou o seu protagonismo. Milhares de vozes no Marco Zero ressoaram de um longo engasgo, embaladas por apresentações de artistas aclamados do cenário nacional. Desde Maestro Forró e homenageados, passando por Geraldo Azevedo e ilustres convidados, findou-se a noite das mais esperadas com a elegância de Caetano Veloso e o regionalismo pop de Duda Beat.
Festa dos resgates de tradições, a abertura deste ano contou com muito frevo do pequeno Davi Lucas, 7 anos, que ficou com a responsabilidade de gente grande de abrir oficialmente os festejos de Momo, ao passar a chave para o Rei e Rainha do Carnaval.
“Eu estava muito triste. Não só eu, né? Todo recifense, pernambucano, sofreu muito por não viver tudo isso”. Este trecho da foliã Mariana Costa, 39 anos, pode resumir o que todo festeiro de carteirinha sentiu nos últimos dois anos. “Agora é uma retomada. Viver esse carnaval relembrando os últimos. Reviver essa nossa cultura e tradição pernambucana, com todos esses artistas. É tudo muito fantástico. Ainda não tive oportunidade de ver o Caetano Veloso, e agora é uma satisfação ter ele aqui. É um ícone da nossa música, a gente admira. É tudo muito fantástico“, comemora.
A interação do Maestro Forró com os homenageados desta edição do Carnaval (Dona Marivalda, Zenaide Bezerra e Geraldo Azevedo) foi um prenúncio de uma noite agitada. A robustez dos convidados que dividiram palco, na sequência, com Geraldo Azevedo, reforçou o clima que todos os presentes já esperavam. Figuras do calibre de Jota Michiles, Lula Queiroga, Fafá De Belém, Mariana Aydar, Chico César, Alceu Valença, Elba Ramalho, entre outros. A graciosidade de Caetano Veloso, envolto em sutilezas que só alguém desta prateleira pode proporcionar, levou o Marco Zero ao êxtase, com a noite encerrando em grande estilo com a filha da terra Duda Beat.
Maria de Fátima, 52 anos, nem cogita passar a festa de Momo longe da capital pernambucana. E como fã raiz que é, sentiu o coração palpitar mais forte. “Não vou para o carnaval em outro lugar. O meu coração estava a mil com essa espera, foi muito tempo sem carnaval e agora ele está de volta. É muita emoção estar na frente desse palco, estou maravilhada. Para mim, tudo isso aqui é especial, independente do artista que se apresenta“, frisa.
Isso para ela. Teve gente encarando mais de 300km e fronteiras estaduais para ver uma apresentação. O Guilherme Ferreira, de 22 anos, juntou uma turma de cerca de 10 amigos e partiram de Arapiraca-AL para ver especificamente um artista. “Vim do interior de Alagoas só para ver a Duda Beat, aqui no Marco Zero. Nunca a vi antes.” E o dia foi de outros debutes. “Inclusive, é a primeira vez aqui no Carnaval do Recife. Todo mundo falava muito bem e eu tinha que vir conferir. Trouxe mais um monte de gente, e tem gente que ama Caetano, também. É todo mundo vindo conhecer os ídolos“, completa, com bom humor.