Opinião | Queiroz, várias táticas para uma estratégia

Opinião
Publicado por Redação
5 de setembro de 2024 às 08h45min
Foto: Rafael Aroeira

Por Mário Benning*

Chamamos de estratégia o plano geral, o alvo ou objetivo final de qualquer empreendimento. Já tática é o conjunto das diversas ações, ou compartimentações, que garantirão o alcance ou a realização da estratégia. 

Uma das curiosidades da campanha de Zé Queiroz, até o momento, é que em pouco menos de uma semana, já estreou uma gama considerável de táticas. Todas se unindo para cobrir os flancos de sua candidatura e neutralizar possíveis ataques. Ao observar essas táticas, desnudamos o plano estratégico de Queiroz para a disputa em curso. Se darão certo ou não, só saberemos no dia do pleito. Mas é interessante ver o caminho que está sendo aberto e as pedras que a sua campanha está assentando.  

A primeira tática é a da “imprecisão”. Em suas falas Queiroz assegura a vitória, mas não se compromete, em nenhum momento, em liquidar a fatura no primeiro turno. Se der deu, se não der, espera mais um pouco. Afinal, sabe que é praticamente certo a realização do segundo turno. Evitando assim o desgaste e o esmorecimento eventual do eleitorado, ao criar uma expectativa frustrada. Apostando que manterá um recall e intenção de votos elevadas ao longo de todo período eleitoral.  

Entra em campo a sua segunda tática, que podemos chamar de “cara legal” ou paz, amor e conciliador. Assumindo uma postura quase paternalista e condescendente em relação aos demais adversários. Um comportamento visto no debate da Rádio Liberdade, onde realçava a ideia de que a sua candidatura representava a segurança, a experiência e a expertise. Enquanto as outras, seriam muito verdes ainda, verdadeiras apostas ou tiros no escuro.

Até o momento, Queiroz não teve a necessidade de ser pedra em vidraças alheias. Delegando para os demais desafiantes o desafio de descontruir Rodrigo e arrastá-lo para a lama. Sendo o nice guy, sem atacar ninguém, espera herdar o apoio e os votos dos demais candidatos. Cabendo a ele o papel de candidato maduro, propositor/solucionador, outra tática.  

Uma das alas mais expostas da candidatura de Queiroz é a questão da idade avançada, um questionamento onipresente pairando sobre a sua campanha. Como vacina a esse ataque, Queiroz utiliza outra tática, a estética do guia e as redes sociais. Não para negar a sua idade, mas sim, criar uma percepção dual e flexível: ele é provecto em idade, mas jovem em ideias! E para solidificar essa visão, a presença Vip de João Campos, dando um selo de credibilidade a esse caminho.

Dá até a impressão de que ele torce para algum ataque desse tipo. Afinal, quem não lembra do debate em 2014 quando Aécio chamou a Dilma de leviana?! O quanto isso humanizou Dilma e desgastou Aécio. Seus adversários insinuam o tema, usam subtextos, mas ninguém abordou, ainda, o bode na sala. 

Embora Tonynho também contribua com a operação de rejuvenescimento, a sua presença na vice cumpre outras funções táticas. Desde elemento de viralização para ofuscar a convenção de Rodrigo Pinheiro, bem como ter um papel semelhante ao de Alckmin na campanha de Lula. Quebrar as resistências de uma parte do eleitorado caruaruense historicamente hostil a Queiroz.  

De bônus, ainda ganha duas participações bombásticas, mantidas longe dos holofotes, guardadas a sete chaves: as estreias aguardadas de Tony Gel e Miriam Lacerda na campanha! Para quando ambos aparecerem e repercutirem, mais uma vez ofuscar os adversários e polarizar a cobertura da imprensa. Já dizia o ex-prefeito Cesar Maia: “falem mal, mas falem de mim”.

E por fim, a última tática usada pela campanha é a da “nostalgia”. Enquanto a história é o exame crítico do passado com os erros e acertos, a nostalgia é uma visão depurada, que destaca os elementos positivos e apaga os negativos. Queiroz cria uma visão nostálgica das suas administrações. Focando em obras físicas, que estão na paisagem local, para referendar essa visão: as avenidas e pontes. Como se tivessem sido anos dourados, sem atritos e conflitos.

Porém, deliberadamente esquece dos aspectos polêmicos: a crise na saúde municipal com os médicos e a contenda eterna com os professores municipais. O relatório da CGU e o relacionamento espinhoso com a Câmara Municipal. Os projetos barrados pelo Ministério Público e a ausência de uma decisão para a Feira da Sulanca.

Neste momento, Queiroz apresentou suas armas e seus caminhos. Cabe esperar ver se seus adversários mirarão exclusivamente em Rodrigo Pinheiro ou se passarão a também alvejá-lo. E, principalmente se o eleitor caruaruense será capturado pelas diversas redes tecidas e lançadas por Queiroz e sua campanha.  

*Professor e analista político

Redação

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