Opinião | Rodrigo Pinheiro: as razões que podem levá-lo à derrota em 2024

Opinião
Publicado por Redação
5 de setembro de 2024 às 10h00min
Foto: Divulgação

Por Vanuccio Pimentel*

É sabido que aqueles que ocupam o cargo e disputam reeleição estão em vantagem competitiva, porque chegam à campanha eleitoral com os feitos da gestão ainda na memória do eleitor. Mas, a experiência recente tem mostrado que há exceções. O caso do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022 é um exemplo de que ocupar o cargo não garante a vitória.

O caso de Caruaru merece bastante atenção porque o prefeito tem tido dificuldades de se manter à frente na disputa. Assim, faz muito sentido tentar compreender as razões que podem levar Rodrigo Pinheiro a uma derrota em 2024.

Vou destacar três razões principais:

1) Deficiência de compreensão do quadro político de Caruaru;
2) As prioridades da gestão de Rodrigo Pinheiro;
3) Erros na condução da estratégia eleitoral.

É bastante claro que o núcleo político do prefeito tem dificuldades de compreender o cenário político caruaruense. Ainda no ano passado, a avaliação equivocada deixou o gestor com poucas opções partidárias para a disputa. Restou à governadora Raquel Lyra viabilizar a candidatura do prefeito. 

Parece que o núcleo do prefeito tem como referência eleições em cidades menores. Em municípios pequenos, o uso da máquina e do emprego público tem um impacto muito grande em uma eleição, porque a ausência de atividade econômica faz com que boa parte da população seja dependente da prefeitura para sobreviver.

Em Caruaru, com quase 250 mil eleitores, essa situação é bem diferente. O emprego público existe, tem impacto em parte do eleitorado, mas não é suficiente para garantir uma influência sobre a maioria dos eleitores. Aqui, é preciso que o governante esteja atento aos diferentes interesses da população.

A complexidade de classes sociais e as diferenças de renda fazem com que cada parte do eleitorado tenha expectativas diferentes sobre o governo municipal. A gestão de Rodrigo Pinheiro nunca compreendeu essas diferenças e não teveações políticas segmentadas no sentido de atender aos anseios dos diferentes setores da sociedade.

Ao contrário, o governo decidiu investir em festas e eventos de rua, como se Caruaru fosse uma cidade de 30 mil eleitores. O montante de recursos disponibilizados para a Fundação de Cultura de Caruaru é impressionante.Em 2023, a despesa da Fundação foi de mais de 51 milhões de reais, em 2019 esse valor foi de 17 milhões de acordo com os dados do TCE.

Ao concentrar muitos recursos para festas e eventos, o governo não priorizou a manutenção de vias e a zeladoria das áreas públicas, tampouco apresentou qualquer projeto de impacto na vida da cidade. Isso reflete diretamente a percepção dos eleitores sobre as prioridades do governo Rodrigo Pinheiro.

Quando se trata da estratégia eleitoral, o núcleo político do prefeito demonstrou mais uma vez que entende de política em cidade pequena. O prefeito fez um esforço para manter uma base de vereadores, suplentes e algumas lideranças, acreditando que isso seria suficiente para produzir um resultado eleitoral positivo. Em uma cidade de grande porte, os vínculos entre a população e os vereadores são mais distantes do que nas cidades pequenas. 

Outra razão é o isolamento político. Ao optar por isolar-se politicamente, evitando acordos com outras forças políticas, o prefeito renunciou ao seu poder aglutinador e deixou campo aberto para a oposição se fortalecer. O resultado ficou evidente no tempo de TV e Rádio, o prefeito não tem o maior tempo e perdeu a oportunidade de mostrar mais do seu governo para o eleitor.

Como o prefeito Rodrigo Pinheiro não tem uma trajetória política anterior e não possui uma base de eleitores própria, todas as avaliações – positivas e negativas – recaem unicamente sobre as escolhas que ele fez nos últimos dois anos e meio de mandato.

*Doutor em Ciência Política (UFPE) e professor adjunto II – Asces-Unita

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