Uma polêmica envolvendo a religião evangélica sendo propagada dentro das escolas estaduais tem gerado embate entre o Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Pernambuco e os deputados. Na última sexta (11), repercutiu um debate que o Ministério Público de Pernambuco está fazendo a partir de uma denúncia do Sintepe em relação a cultos evangélicos que têm acontecido nos intervalos escolares no município de Goiana, Zona da Mata Norte. Na ocasião, em entrevista a um portal de notícias, a vice-presidente do sindicato, Cíntia Virgínia Sales, afirmou que havia preocupação na utilização dos espaços públicos escolares para fins religiosos e sem supervisão.
No fim de semana, os deputados estaduais Joel da Harpa e Renato Antunes, além do deputado federal André Ferreira, todos do PL, se posicionaram contrários ao que chamaram de “tentativa de impedir o estudo bíblico” fora do horário de aulas. Para Joel, “proibir o culto bíblico no intervalo é uma afronta ao direito de liberdade religiosa”. Já André questionou sobre a preocupação do sindicato: “se o estudo bíblico acontece fora do horário de aula, por que incomoda tanto? Não vamos nos calar diante desse absurdo”, escreveu o federal. Renato foi mais enfático: “será que preferem que os jovens usem maconha e drogas ao invés de falar sobre fé e esperança em nossas escolas?”, perguntou.
Por nota e também através de vídeo publicado pela presidente do Sintepe, Ivete Caetano, o sindicato disse que está rebatendo “mentiras” dos parlamentares, pois o interesse é preservar o direito à laicidade. Mesmo sem citar nomes, o texto do sindicato dá “indiretas” específicas para Joel da Harpa, afirmando que votou “contra o reajuste na carreira para os professores, no ano passado” e entrou “nas escolas para agredir e fazer acusações estapafúrdias contra professores”.
Leia também:
André confronta Sintepe e reafirma que alunos devem ter liberdade para cultos nas escolas
Confira a íntegra da nota:
O Sintepe (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco) vem a público responder às mentiras disseminadas pelos deputados Joel da Harpa e André Ferreira sobre “livre manifestação religiosa”. O Sintepe é favorável e defende o Ensino Religioso nas Escolas Estaduais garantindo o respeito a todas as crenças e religiões, em acordo com o que diz a Constituição Federal, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e o Currículo de Pernambuco.
O Sintepe e a Secretaria de Educação foram convocados pelo MPPE (Ministério Público de Pernambuco) para se pronunciarem em um procedimento administrativo de acompanhamento de políticas públicas instaurado para “acompanhar os termos do ensino religioso nas escolas da rede pública estadual, sobretudo à luz do Estado Laico e ampla liberdade de crença”.
A principal decisão tomada pelo MPPE foi envolver outras entidades e estudiosos do tema para debater o ensino religioso nas escolas estaduais de Pernambuco. O Sintepe é favorável a essa determinação de amplo debate com toda a sociedade.
De acordo com a Constituição Federal, a LDB e o Currículo de Pernambuco o ensino religioso deve assegurar o respeito à diversidade cultural e religiosa, vedadas quaisquer formas de proselitismo, sendo baseado nos princípios da liberdade, da solidariedade, da justiça, do respeito à dignidade das pessoas, da promoção do bem comum de todos e do combate a qualquer preconceito e discriminação.
O Sintepe informa que o currículo para o ensino religioso de Pernambuco incentiva o desenvolvimento de habilidades como reconhecer, respeitar e valorizar a crença de cada um e a diversidade das religiões; acolher as semelhanças e diferenças entre as pessoas; respeitar as características físicas e subjetivas de cada um; valorizar a diversidade de formas de vida; identificar as diferentes formas pelas quais as pessoas manifestam sentimentos, ideias e crenças em diferentes espaços; respeitar símbolos religiosos de distintas manifestações, tradições e instituições religiosas, dentre muitos outros.
O Sintepe se posiciona diante da falsa polêmica para reafirmar aos deputados que o Estado é laico e imparcial, por isso mesmo, não pode impor, proibir nem favorecer nenhuma religião.
Ambos os deputados deveriam, de fato, apoiar professores na luta por uma merenda de qualidade sem bicho na comida; apoiar a luta do Sindicato denunciando quando o teto das escolas está caindo; quando os alunos passam mal de tanto calor em salas sem ar-condicionado; quando a educação estava defendendo seu salário e seu plano de carreira. Muitos desses deputados, inclusive, votaram contra o reajuste na carreira para professores, no ano passado. São os mesmos que entram nas escolas para agredir e fazer acusações estapafúrdias contra professores.
Portanto, nossa categoria repudia qualquer tipo de politicagem com a fé e o direito a uma escola que respeite todos e todas.
Sintepe