O deputado federal Túlio Gadêlha (PDT) solicitou ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, informações sobre o projeto de construção de uma central nuclear, com seis reatores, no município sertanejo de Itacuruba, localizado a 470 quilômetros do Recife. Desde 2007 que o assunto foi posto em discussão, mas existe uma grande dificuldade em obter informações do Governo Federal, que mantém o estudo sob sigilo. No final de 2019, o pedetista chegou a pedir a realização de uma reunião pública, mas em razão da pandemia da Covid-19 no ano seguinte, o encontro não pôde acontecer.
“Estamos em 2021 e por mais que existam pressões de entidades ligadas a diversas áreas nada se sabe sobre o empreendimento”, afirmou o deputado. No requerimento de informação protocolado pelo parlamentar, entre os vários questionamentos, existe um que consiste em saber qual o local exato que o estudo aponta como viável para a construção da central nuclear, visto que a cidade fica às margens do rio São Francisco – afluente que banha cinco estados, beneficiando mais de 500 cidades, com 20 milhões de nordestinos dependendo das águas do Velho Chico.
Para além da falta de informação, a população a ser atingida – composta por comunidades tradicionais, dentre elas quilombolas e indígenas – possui o direito à consulta prévia assegurada na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, o que está sendo explicitamente desrespeitado. O Povo Pankará chegou a fazer uma denúncia ao Ministério Público Federal, mas a ação culminou em um documento preparatório.
Em 2007, quando o projeto de construção da Usina Nuclear veio à tona, foram realizadas várias manifestações contrárias na cidade, como caravanas antinuclear, com o apoio da Diocese de Floresta e outras organizações como o Conselho Indigenista Missionário e a Comissão Pastoral da Terra. Em 2011, o assunto esfriou por causa do acidente ocorrido na cidade de Fukushima, no Japão, naquele ano. Somente no final do governo Temer voltou a ser discutido novamente a partir da construção de Angra 3 e outras centrais nucleares.
Além do risco inerente ao empreendimento, a implantação da usina implica em impactos ambientais alarmantes. Segundo estudos, a utilização da água do rio para o resfriamento dos reatores pode gerar um aumento de quatro graus na temperatura do São Francisco, por exemplo. A construção de novas centrais nucleares no Nordeste ganhou ainda mais força no governo atual e por ser considerado de interesse militar e classificado como de segurança nacional é mantido a sete chaves.