Por Mário Benning*
Uma das coisas que chamam a atenção neste início de campanha é o clima de bate-cabeça ou de barata voa na campanha de Rodrigo Pinheiro. Boa parte, consequência da inexperiência tanto do prefeito/candidato, quanto dos seus coordenadores de campanha, o famoso núcleo duro, que neste caso está mais para prato de papa.
Se os 28 meses de mandato deram cacife administrativo a Rodrigo Pinheiro, o mesmo ainda é noviço em pleitos eleitorais. Embora tenha participado de duas vitoriosas campanhas, em nenhuma delas teve um papel preponderante ou de peso.
Rodrigo ainda é um grande desconhecido da sociedade caruaruense. Não estou afirmando que a população não o reconhece ou sabe que o mesmo é o titular do poder municipal. Mas, que o prefeito/candidato não construiu uma persona pública na cidade. Não conhecemos seu desempenho como candidato, como ele age sob pressão e lida com os embates. Se ele será páreo e estará à altura para debater com adversários experientes e cheios de macetes.
Boa parte dessa situação decorre da maneira tradicional como todos os prefeitos de Caruaru, na história recente, tratam seus vices. Os mantém afastados dos holofotes, sem nenhuma função ou visibilidade. Desconfio até que deva ter alguma câmara frigorífica no palácio municipal com essa função.
O atual prefeito saiu do anonimato para ser o mestre de picadeiro da maior cidade do interior de Pernambuco. Nos primeiros meses, teve que manter um perfil discreto para não atrapalhar a candidatura de Raquel a governadora do Estado, sem poder trabalhar seu nome na cidade de forma ampla.
Mesmo com este estilo low profile, acumulou tensões e rusgas, dando origem ao burburinho que ele seria rifado e substituído como cabeça de chapa. O que consumiu parte do seu tempo e fragilizou o seu capital político para pacificar a situação. Se a governadora não o queria como candidato, por que a cidade deveria querer? Sendo vítima de um fogo amigo, pero no mucho amigo.
Diante desse cenário, Rodrigo preferiu pegar alguns atalhos para reverter o quadro; apostou numa agenda de grandes eventos para massificar o seu nome. Tendo como efeito colateral, não consolidar seu nome como liderança política e gestor: com uma agenda de obras entregues e planejadas, mas sim de promoter de festas. Um flanco que seus adversários vêm explorando desde já. E o pior, com a munição tendo sido fornecida por ele mesmo. Desconfio até que a dantesca cena dele desfilando na Sapucaí apareça como meme ou gif.
Também contribuiu para esta situação, a ausência de uma estratégia de marketing que destacasse seus pontos positivos, que o tornasse uma personalidade crível. Com estratégias que encaixassem com as suas características. Mas não, de forma preguiçosa, escolheu-se copiar na cara dura o marketing de João Campos. Outra imagem candidata a meme, o cabelo “nevado”. Nem sempre o que dá certo para um candidato dá pra outro. Muitos imitaram: Trump, Bolsonaro e Lula e deram com os burros n’água.
Essa persona e campanha artificializada, junto com uma má divulgação de suas ações como gestor, explicam o empate técnico com Queiroz. E a intenção de voto abaixo de 40%, o que indica um caminho duro ao longo da campanha.
Essa conjuntura adversa, ao invés de puxar uma reformulação ampla das táticas e estratégias da campanha, fez o grupo do prefeito pedir apoio total de Raquel e de membros experientes do seu círculo. Nada contra o pedido, mas precisava sair na imprensa.
Passa o recibo de amadorismo e medo, a tal barata voa! E como sangue na água estimula os predadores, essa sinalização fez os seus adversários vê-lo como o alvo a ser desidratado e batido no primeiro turno. Afinal, tal pedido de socorro significa que as coisas não estão como esperadas pela campanha do prefeito. Há um bate-cabeça generalizado onde, do salto alto na crença da vitória em primeiro turno, passou-se automaticamente para as sandálias da humildade de uma disputa aguerrida.
Nada está decidido ou perdido ainda, vide o exemplo do próprio Queiroz em 2012, que aparecia atrás em intenções de votos para Miriam Lacerda e deu a volta por cima. Até agora, a maior parte dos danos à campanha de Rodrigo não veio de seus rivais, mas dos seus correligionários atuando de forma atabalhoada. A sua campanha não pode ver uma casca de banana do outro lado da rua, que atravessa para escorregar.
O SOS enviado ao Palácio do Campo das Princesas é uma dessas cascas, pois cristaliza a percepção de que Rodrigo não é capaz de sozinho enfrentar cenários adversos e precisa da tutela permanente de Raquel. O que é horrível, já que Caruaru almeja um líder e não um fantoche para sentar na cadeira de prefeito.
*Professor e analista político