
Por Vanuccio Pimentel*
A pesquisa Genial/Quaest divulgada na última semana consolida a complexidade do cenário da política pernambucana desde o início de 2024.
O governo Raquel Lyra é aprovado por 51% dos entrevistados, 32% avaliam positivamente e apenas 26% negativamente. De forma geral, o eleitor parece reconhecer que o governo tem funcionado e tem feito entregas à população.
O resultado está em sintonia com a atuação da governadora, que tem mantido um ritmo de entregas em várias regiões do estado e tem buscado melhorar sua articulação com os prefeitos. Ela também continua ativa nas redes sociais e ocupando espaços na mídia nacional.
Apesar disso, 52% dos entrevistados consideram que ela não merece ser reeleita, e nas intenções de voto, a governadora Raquel Lyra obteve apenas 28% contra 56% de João Campos.
Em síntese, a pesquisa trouxe à tona o descompasso entre a avaliação do governo e a intenção de voto. Em outras palavras, há uma clara separação na percepção do eleitor entre a gestão e a política.
Qual a explicação para esta separação entre a gestão e a política?
Considero que dois movimentos foram cruciais para a produção do atual cenário.
1) O isolamento político da governadora;
2) O descolamento da imagem de João Campos do campo político tradicional.
Ao vencer as eleições de 2022, a governadora Raquel Lyra fez um mergulho, apartando-se (ela e o governo) da arena política estadual. Este isolamento deixou um vácuo que foi rapidamente ocupado pela oposição.
O PSB, que saiu enfraquecido da eleição de 2022, encontrou espaço suficiente para se reorganizar e liderar a oposição ao governo. A entrada de Miguel Coelho no campo da oposição fortaleceu a posição de João Campos e da oposição.
Sem uma base parlamentar organizada e com baixa articulação política, a governadora abriu o espaço necessário para uma forte oposição.
As eleições municipais de 2024 foram uma oportunidade de reverter esse movimento da oposição e serviu para estruturar uma base de prefeitos e de estancar o crescimento da base oposicionista.
O segundo movimento, e talvez o mais impressionante, foi o descolamento da imagem de João do campo político tradicional.
Há exatamente um ano atrás, no carnaval de 2024, João Campos explodiu nas redes sociais e na mídia nacional como uma grande novidade. Para além da política, ele se projetou como um grande influencer, capaz de ditar moda entre os jovens e de produzir conteúdos com um estilo próprio.
Esta condição de estrela das redes sociais o consolidou como uma grande novidade, uma figura jovem que passou a ocupar o campo político da centro-esquerda, que está envelhecido e cheio de figuras analógicas.
João Campos tem profundas raízes na política tradicional do estado, mas conseguiu um feito muito importante: se consolidar como uma novidade no cenário político, mesmo sendo fruto de uma linhagem muito tradicional na política.
A meu ver, estes dois pontos são fundamentais para entender o momento da política pernambucana. De um lado, a primeira mulher governadora de Pernambuco, com forte ligação com o interior que, apesar dos ineditismos, não consegue se consolidar como uma novidade na política estadual.
E do outro lado, um jovem vindo da mais tradicional linhagem política do estado que conseguiu se consolidar como uma grande novidade, um exemplo a ser copiado por inúmeros políticos mais jovens pelo país.
Portanto, o caminho da governadora deve ser atrair a todo momento a percepção do eleitor para as entregas do seu governo, as mudanças promovidas e o sucesso de suas políticas. E a João Campos convém manter o status quo, pois nesse momento ele consegue atrair a percepção do eleitor para ele, como uma grande promessa para o futuro.
*Doutor em Ciência Política (UFPE) e professor adjunto II – Asces-Unita